Desenvolvimento de Carreira na Infância: Apresentação e contextualização

No passado dia 13 de Maio, o Projeto IDEA lançou uma nova iniciativa, com a apresentação da proposta para o baralho de cartas Profissões 20/21. Este baralho terá o objetivo de promover a consciência para a carreira e a descoberta pessoal, estimular a leitura e escrita em crianças e adolescentes, e homenagear os profissionais da "linha da frente" no combate à pandemia de COVID-19. 

Para que este material se concretize, e partirmos ao seu fabrico, está a decorrer uma campanha de crowdfunding na plataforma PPL (https://ppl.pt/projetoidea), para angariarmos a quantia necessária e fazê-lo chegar a crianças, jovens, pais, professores, psicólogos e demais entusiastas que queiram dele usufruir. Agradecemos, desde já, a todos(as) aqueles(as) que já deram o seu contributo e divulgaram esta campanha!

Para além disso, enquanto a campanha prossegue, pretendemos, hoje, iniciar um conjunto de publicações, em consonância com um dos objetivos deste baralho: a consciência para carreira ou, mais amplamente, o desenvolvimento de carreira na infância.



É raro focarmo-nos no desenvolvimento de carreira das nossas crianças. Isto, pelo menos, com a mesma intencionalidade e urgência com que o fazemos com outras faixas etárias, tais como jovens e adultos. Este comportamento, na verdade, faz algum sentido.

A infância é um período onde ideias como o autoconceito ou o planeamento ainda estão numa fase inicial do seu desenvolvimento. Este é um período rico em descobertas, caracterizado pela experimentação de múltiplos papéis e cenários e pela maturação de estruturas cognitivas e afetivas. Por isso, será improvável e desadequado aspirar a que as nossas crianças tomem decisões de carreira complexas e planeadas nesta fase.

Muitas vezes, o que se procura nesta fase é aumentar a consciência para a carreira. Isto tem sido feito, em especial, através da partilha de informação sobre as profissões e o mundo do trabalho. 


Contudo, o nosso papel enquanto pais e profissionais (p.e., professores, educadores, psicólogos) poderá ser muito mais amplo.


Enquanto adultos, poderemos tentar perceber como as nossas escolhas e ações contribuem para o desenvolvimento das nossas crianças. Esta reflexão e acompanhamento poderão surtir efeitos no seu quotidiano mais próximo, mas também numa fase mais avançada, como na adolescência ou no início da idade adulta. Por exemplo, o desenvolvimento de competências como a regulação emocional e a autoeficácia (i.e., o sentimento de se ser capaz de fazer algo), através de atividades adequadas à faixa etária (neste caso, a infância) apresentam benefícios ao nível da capacidade para planear e de se adaptar ao longo da vida (p.e., Lent, 2005).

Assim, torna-se pertinente sabermos quais os aspetos da vida das crianças que deveremos conhecer e nos quais poderemos intervir, e como estes se interligam entre si.

Neste sentido, o Modelo de Desenvolvimento de Carreira na Infância de Super (1990, 1994, Savickas, 2002, citados em Sharf, 2013) poderá ajudar-nos a perceber não só como poderemos transmitir e explorar informação de cariz vocacional às nossas crianças, como também a nos posicionar na relação com as mesmas. Este modelo procura compreender como é que as crianças vão desenvolvendo o seu autoconceito e, ao mesmo tempo, competências de planeamento, de tomada de decisão ou de posicionamento no tempo (i.e., perspetiva temporal), na "chegada" à adolescência. Será o nosso "guia" nesta e nas próximas publicações.



A curiosidade é um impulso primordial na infância.

A criança satisfaz esta curiosidade, geralmente, através da exploração, de si, do(s) outro(s) e/ou do meio envolvente e seus estímulos. Esta atividade é de elevada importância em várias áreas do seu desenvolvimento, como o tema da carreira, e nunca cessa.

A atividade exploratória leva, consequentemente, a que a criança adquira cada vez mais informação sobre o que a rodeia. Uma outra fonte de informação relevante para as crianças são as suas figuras-modelo, ou seja, pessoas cujos comportamentos lhes despertam a atenção, querem conhecer e imitar (p.e., pais, professores, irmãos ou outros familiares e elementos da comunidade).

Os interesses das crianças desenvolvem-se quando começam a utilizar a informação que obtiveram graças à atividade exploratória e à observação e imitação das suas figuras-modelo.

Neste período de maturação, as crianças desenvolvem também estratégias de autocontrolo, ao ouvirem-se a si próprias e aos(às) outros(as).

Para mais tarde tomarem decisões de carreira, as crianças* precisam de desenvolver algo designado por perspetiva temporal, ou seja, uma noção de futuro e de se posicionar em vários momentos da sua vida. Isto, enquanto se dá o desenvolvimento do autoconceito, irá ajudá-las a um elaborar um 1.º plano de carreira.


Nas próximas publicações, iremos explorar cada um destes aspetos e adicionar algumas recomendações.


Referências bibliográficas

Lent, R. L. (2005). A Social Cognitive View of Career Development and Counseling. In S. D. Brown, & R. W. Lent (Eds.), Career Development and Counseling: Putting Theory and Research to Work (pp. 101-127). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, Inc.

Sharf, R. S. (2013). Applying Career Development Theory to Counseling (6th ed.). Cengage Learning.


Obrigada, até breve e boas IDEA's e momentos!


*Os dois últimos aspetos do modelo têm o seu desenvolvimento, sobretudo, já no período da adolescência. Mantém-se nesta publicação para serem compreendidos à luz do modelo.

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